Navio «Almirante Gago Coutinho» nos Açores
(O brasão e o patrono do navio, cuja biografia segue em comentário)
O Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, João Mira Gomes, visita amanhã, quarta-feira, o navio «NRP Almirante Gago Coutinho», acompanhado do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando Melo Gomes. Esta visita destina-se a dar a conhecer as capacidades, equipamentos e missões do navio, após um período de trabalhos em que a Marinha e o MDN/ Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental congregaram esforços e recursos para modernizar e adaptar o navio para a execução actividades no âmbito do projecto de extensão da plataforma continental em curso. A visita constará de uma apresentação e visita ao navio e de um período de navegação com regresso à Doca da Marinha.
O «NRP Almirante Gago Coutinho» é um navio hidro-oceanográfico que assegura, no âmbito das missões específicas da Marinha, actividades relacionadas com as ciências e tecnologias do mar tendo em vista a sua aplicação na área militar, contribuindo também para o desenvolvimento do País nas áreas científica e de defesa do ambiente marinho nos domínios da hidrografia, da cartografia náutica, da segurança da navegação, da oceanografia e da geologia marinha.
Equipado com os mais modernos equipamentos são de destacar os sistemas acústicos de aquisição de dados ao longo da coluna de água e do fundo do mar. As capacidades instaladas fazem do «NRP Almirante Gago Coutinho» uma plataforma disponível para a comunidade científica, permitindo a utilização de forma integrada das tecnologias ao serviço da Marinha e das instituições de investigação do mar.
O «NRP Almirante Gago Coutinho» irá executar, de seguida, trabalhos para o projecto de Extensão da Plataforma Continental nas águas do Arquipélago dos Açores. A Estrutura de Missão tem por objectivo a preparação e apresentação à Comissão de Limites da Plataforma Continental de uma proposta de extensão da plataforma portuguesa para além dos limites actuais das 200 milhas.
Fonte: [Diário dos Açores]
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O Vice-almirante Carlos Viegas Gago Coutinho reformado (1944), distinto oficial da Armada e notável geógrafo e navegador, nasceu em Lisboa a 17 de Novembro de 1869, onde fez o curso do Liceu e, depois de frequentar a Escola Politécnica em 1885-86, entrou na Escola Naval, onde concluiu o seu curso em 1888. Em 1889, fazendo parte da guarnição da corveta "Afonso de Albuquerque", tomou parte nas operações militares do Tungue e em 7 de Março de 1891 foi promovido ao posto de Segundo-tenente. Como oficial de guarnição embarcou no couraçado "Vasco da Gama", nas Canhoeiras "Liberal", "Zambeze", "Limpopo" e "Douro", nas corvetas "Duque da Terceira", "Rainha de Portugal" e "Mindelo" e nos transportes "Pedro de Alenquer" e "Índia".
Comandou as canhoeiras "Sado" e "Pátria" e a lancha-canhoeira "Lage". Como comandante da "Pátria", tomou parte activa na campanha de Timor, de Abril a Junho de 1912, pelo que foi louvado. Além de uma brilhante folha de serviços prestados na Marinha de Guerra, teve este oficial uma importante acção como geógrafo notável em trabalhos geodésicos, topográficos e de delimitação das fronteiras das nossas colónias.
Em 1898 fez parte, como adjunto, da comissão de delimitação do distrito de Timor. Em 1900 foi nomeado delegado por parte de Portugal para a delimitação da fronteira luso-britânica dos territórios do Niassa. Em 1901, como comissário de Portugal, fez parte da comissão de delimitação da fronteira luso-belga de Noqui ao Cuango. Em 1904 e 1905 dirigiu a delimitação das fronteiras ao norte e sul de Tete. Em 1906, como chefe da missão geodésica na África Oriental, iniciou o levantamento da carta desta colónia, fazendo a sua ligação geodésica com a da África do Sul. De 1912 a 1914 foi o chefe da delimitação da fronteira de Angola com o Barotze. Em 1916, como chefe da missão geodésica de S. Tomé, realizou nesta ilha notáveis trabalhos, de que é testemunho o brilhante relatório que apresentou e pelo qual foi louvado por "mais uma vez ter revelado a sua alta capacidade cientifica que honra o País e a Corporação a que pertence". Em 1918 foi nomeado vogal da comissão de Cartografia de que veio a ser presidente em 1925.
O seu muito saber de geógrafo e navegador de larga experiência e o seu espírito empreendedor e investigador, levaram-no a dedicar-se ao estudo da navegação aérea, ainda incipientes nessa época. Para este fim, ligou-se ao seu antigo companheiro de trabalhos geográficos, nas colónias, o capitão-tenente Sacadura Cabral, aviador dos mais distintos da Marinha de Guerra e num trabalho, que de princípio se fez em muito segredo, começaram a realizar voos experimentais para o estudo de novos métodos de navegação aérea, já com o objectivo de efectuarem a travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro.
Em 1921, Gago Coutinho como navegador, faz com Sacadura Cabral uma viagem aérea experimental de Lisboa ao Funchal, em que se pôde na prática verificar, a exactidão dos novos processos de navegação e pelos quais foi louvado. E é então que, em 1922 (Março - Junho), no modesto hidroavião do tipo Fairey F III-D "Lusitânia", aqueles dois oficiais, realizam a travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro, que havia de ficar memorável. Esta travessia que foi a primeira que se realizou entre a Europa e a América do Sul, foi também a primeira em que se fez navegação aérea com rigor e por métodos expeditos próprios para a navegação aérea, fazendo Gago Coutinho uso de tábuas de navegação, especialmente adaptadas para este fim, e de um sextante de sua invenção cujo modelo foi mais tarde reproduzido por uma firma alemã desta especialidade. Esta travessia teve uma repercussão mundial importante e trouxe não só para Gago Coutinho e Sacadura Cabral um renome que ultrapassou as fronteiras, como honra para o nosso País.
A navegação aérea que até à data tinha sido feita um pouco ao acaso, apoiando-¬se o piloto apenas no rumo da agulha, passou a ser feita por processos rigorosos, práticos e expeditos. Por este feito glorioso foi promovido, por distinção, ao posto de Contra-almirante e condecorado com o grau da Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, e com o mesmo grau da Ordem Militar de Santiago da Espada. Por este mesmo motivo a França, onde ele e Sacadura Cabra foram recebidos na Sorbonne, agraciou-o com a comenda da Legião de Honra. O Brasil concedeu-lhe a condecoração da Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul e a Espanha as medalhas do Mérito Naval e Mérito Militar. A Bélgica e a Itália também o agraciaram pelo seu feito, reflectindo o significado e o apreço que o mundo inteiro deu a esta memorável travessia aérea.
Em 1926 foi nomeado director honorário da Aeronáutica Naval Portuguesa, sendo-lhe concedido o uso do distintivo de piloto aviador, encimado por duas palmas. Neste mesmo ano passou a exercer o cargo de vogal do Concelho Superior das Colónias e em 1928, foi eleito sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa, de que já era correspondente desde 2 de Junho de 1921. Pela sua muita competência como geógrafo, foi nomeado em 1928 pelo Ministério da Guerra, presidente da comissão para propor a reorganização dos serviços geográficos, cadastrais e cartográficos. Nesse mesmo ano também passou a fazer parte, como vogal, da comissão encarregada de estudar o estabelecimento de um aeroporto nos Açores e a navegação aérea para as Colónias. Pelo Ministério das Colónias foi em 1928, encarregado de proceder a estudos cartográficos em França e Itália e de estudar no Brasil os documentos cartográficos que interessassem à nossa História. Em 1930 passou a fazer parte da comissão organizadora do Museu da Marinha e em 1931, foi nomeado pela Presidência do Ministério para fazer parte da comissão encarregada de organizar as festas do centenário de Nuno Álvares Pereira e foi também agregado à comissão da História da Colonização Portuguesa e da nossa expansão no Mundo. Em 1923 foi encarregado de proceder ao estudo dos resultados experimentais dos modernos processos de levantamento aéreo na Itália, França e Brasil e em 1933 passou a fazer parte da comissão encarregada de proceder ao estudo do projecto do monumento ao Infante D. Henrique em Sagres. Ainda em 1933 volta novamente a Moçambique para proceder a trabalhos geográficos, passando à reserva, a seu pedido, em 3 de Agosto de 1934.
Em 1936 foi nomeado para fazer parte da Comissão Orientadora da Exposição Histórica da Ocupação e do primeiro Congresso da Expansão Portuguesa no Mundo.
Elaborou em várias revistas tais como os Anais do Clube Naval, Boletim da Sociedade de Geografia, Seara Nova, etc., e em jornais portugueses e brasileiros, numerosos artigos sobre a navegação e os descobrimentos Portugueses, onde revelou sempre o seu muito saber e o seu espírito de investigador. Fez várias conferências em Portugal e no Brasil e publicou ainda trabalhos sobre a teoria da relatividade restrita. Durante a sua actividade o estudo das viagens dos descobrimentos marítimos e das rotas dos veleiros nos séculos XV e XVI ocuparam um lugar muito importante.
Tomou parte, como representante de Portugal, no Congresso de Navegação Aérea em Roma, em 1928, e em 1932, nesta mesma cidade, tomou também parte na Reunião dos Aviadores Transatlânticos.
Como presidente da Comissão de Cartografia concorreu eficazmente para a criação da Missão Geográfica de Moçambique e para a solução definitiva da fronteira luso-belga na região do Dilolo.
Além de sócio da Academia de Ciências de Lisboa foi também vogal da Academia de Ciências de Portugal, sócio da Academia de História, sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sócio honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa, sócio da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro e de outras associações científicas brasileiras. Possui as ordens honoríficas já mencionadas atrás e ainda a Ordem do Império Colonial, Grã-Cruz de Avis, a medalha comemorativa das Campanhas do Exército Português, etc.
Em Fevereiro de 1939 foi reformado no posto de Vice-almirante, encerrando assim nesta data a sua vida oficial activa, que foi principalmente dedicada a trabalhos geográficos e ao estudo da navegação aérea, que teve como ponto culminante a travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro em que o seu nome se notabilizou e o do País se engrandeceu. Fora da vida oficial, a sua actividade de homem estudioso continuou.
Entre os seus trabalhos publicados destacam-se:
-Algumas determinações de longitude feitas ultimamente em África pela missão da fronteira do Barotze, 1915;
-As determinações de latitude feitas pela missão da fronteira do Barotze, 1915;
-Impressões de duas viagens através de África entre Angola e Moçambique, 1915;
-Relatório da Missão Geodésica de S. Tomé, 1920;
-Relatório da viagem aérea Lisboa - Rio de Janeiro, 1923 (com a colaboração de Sacadura Cabral);
-Tentativa de interpretação simples da Teoria da Relatividade restrita, 1926;
-O Roteiro da viagem de Vasco da Gama e a sua versão nos Lusíadas, 1930;
-Desdobramento da derrota de Vasco da Gama nos Lusíadas, 1931;
-Possibilidade da rota única de Vasco da Gama em Os Lusíadas. Impossibilidade de Vasco da Gama ter navegado de Cabo Verde para o Sul, 1931;
-A possibilidade de se ler pela segunda vez em Os Lusíadas, uma rota única de Vasco da Gama, 1933;
-Gaspar Corte Real, 1933;
-Alguns erros em que se apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1933;
-Continuação dos erros em que se apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1934;
-Passagem do Cabo Bojador, 1935;
-Influência que as primitivas viagens portuguesas à América do Norte tiveram sobre o descobrimento das Terras de Santa Cruz, 1937.
Fonte: MDN.
Muito interessante! gostei muito de relembrar a distinta Figura Pública do Almirante Gago Coutinho!
Obrigada, Sailor Girl!
Mais animadinha? Que tal, agora para breve, um final de tarde (post laboral, claro!)com Pastéis de Belém?!:)
Beijinho!
na canoa o moto ee!
norte e pastel de nata!!!!
sorte para a missao do Navio!
...e que não encontrem petróleo. O país já tem problemas que cheguem!
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